Com um índice considerado preocupante de endividamento estagnado na casa dos 77% desde o último mês de março, conforme aponta a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), cuidar bem do bolso se faz cada vez mais fundamental para manter a saúde financeira. Organizar gastos fixos, estabelecer prioridades e colocar tudo na ponta do lápis é o passo inicial para quitar dívidas e voltar a ter uma vida equilibrada, sem sustos no fim do mês. É o que sugere a especialista Serasa Camila Faiçal Cruz, que concedeu entrevista à TRIBUNA DO NORTE.
Camila Faiçal Cruz, especialista da Serasa premium
No ano passado, a Serasa elaborou um estudo para identificar os efeitos e as causas do grande endividamento que persiste no País. Pandemia, desemprego, inflação, falta de controle financeiro, compras de alimentos e gastos com saúde são alguns dos fatores que colocaram mais famílias na faixa do endividamento. O cartão de crédito foi apontado como o grande vilão das inadimplências: 53% dos entrevistados o citaram como a principal fonte de dívidas. E os efeitos não são só no bolso, 85% dos consumidores alegaram sofrer com insônia ou dificuldade para dormir por causa das dívidas. No entanto, nem tudo está perdido, diz a especialista Camila Cruz. Há diferentes maneiras de buscar colocar as contas no verde, mesmo com o cenário adverso de alta inflacionária. Nesta entrevista, Cruz diz ainda que se proteger de fraudes e golpes é essencial para recuperar o bem-estar financeiro. Neste sentido, a Serasa está lançando a série “Sempre Alerta”, com conteúdos gratuitos que explicam os golpes financeiros mais frequentes e orientam sobre os cuidados considerados essenciais para o consumidor se proteger contra esse tipo de crime. Confira a entrevista.
Nesse momento de crise e alto nível de endividamento o que é essencial para manter ou alcançar a saúde financeira?
É sempre manter uma organização das suas contas. Começar pelo básico, que é pegar um papel e uma caneta e anotar todos os seus gastos fixos do mês e organizar essas prioridades. Quando você consegue visualizar as contas que você gasta e comparar com o quanto você ganha, você já consegue mensurar onde você precisa economizar, pode ser no mercado ou cortar um gasto desnecessário, por exemplo e assim a gente inicia uma vida financeira. Paralelo a isso, as pessoas podem recorrer a aplicativos, vídeos informativos no YouTube, na Serasa, por exemplo, nós temos o canal Serasa Ensina, que dá diversas dicas financeiras de como organizar sua rotina, inclusive ao longo do ano, com datas comemorativas. Sabemos que em dezembro se gasta mais porque tem Natal, festas. Início do ano tem os gastos com a escola para as famílias com filhos. O IPTU que pode vencer, um seguro de carro, então assim eu consigo organizar um cronograma de 12 meses, de como funcionam os picos de gasto. Isso já ajuda a um controle financeiro e ao início de uma vida com educação financeira para diminuir essa dívida.
O acesso ao crédito pode ser uma solução para aliviar as dívidas?
Hoje realmente se tem uma facilidade de acesso, mas ele precisa cuidar também para não pegar um crédito, quitar as suas dívidas e de repente formar uma outra dívida e isso ser uma bola de neve futura para ele. O acesso ao crédito pode ajudar desde que haja uma organização da rotina financeira. Cuidado com a taxa de juros, olhar taxa de juros de um crédito, de um financiamento, de um empréstimo para ver se compensa em relação ao atraso de uma conta, cuidar para conta não ser negativada porque depois disso ele pode também acarretar um problema muito maior.
O desemprego é o maior “culpado” do endividamento?
Acredito que a pandemia influenciou muito na empregabilidade do brasileiro, pessoas tiveram que se reinventar, pessoas que perderam seu emprego, então isso também teve uma grande influência. A gente viu vários empreendedores, pequenas e médias empresas e até várias famílias que conseguiram se manter porque tinham uma reserva de emergência, tinha um dinheirinho guardado tinha essa organização, mas foi um grande impacto na vida financeira de todo mundo perfeito.
O desemprego recuou a 9,8%, menor taxa para o trimestre finalizado em maio desde 2015. Devemos ter um impacto positivo no índice de endividamento?
Assim espero. Gostaria muito que a gente tivesse essa melhora porque isso realmente movimenta a nossa economia, movimenta nosso ecossistema. Seria bem importante que a gente reduzisse cada vez mais essa taxa.
Como mostrado em estudos da Serasa, além das dívidas em si, as fraudes contribuem para o desequilíbrio financeiro das famílias e ainda geram danos emocionais. Como se prevenir dos golpes?
A gente sabe que se proteger de fraudes e golpes é essencial para recuperar o bem-estar financeiro. Então, essa campanha que a gente está lançando agora, a “Sempre Alerta”, vem justamente para ajudar com dicas a combater fraude, então nos nossos canais oficiais do Instagram Facebook, YouTube, a gente sempre coloca alguns vídeos. No caso do boleto, a dica é sempre conferir o nome do emissor do boleto. Quando você recebe um boleto de uma dívida com aquela promoção, que geralmente mexe com o nosso emocional, que diz que você tem até as 14 horas para pagar com superdesconto, é aí que a gente cai num golpe. A gente deixa a emoção tomar conta daquele momento junto com o argumento emergencial, de que precisa ser naquele momento, naquele instante e nós não nos atentamos ao detalhe do que está escrito no boleto. Nessas situações, a dica é respirar, contar até dez, ver se aquilo faz sentido, checar a instituição, se tiver dúvida olhar o CNPJ daquela que se diz a empresa. Hoje isso é superfácil. O mesmo vale para os golpes do Pix.
O que é o Sempre Alerta? Como acessar os conteúdos?
O programa Sempre Alerta vai ser uma série de dicas que a gente vai dar para pessoa evitar uma fraude, evitar um golpe. Então a gente vai divulgar sempre no nosso blog do Serasa Premium e no nosso canal no YouTube, que é o Serasa Ensina, vídeos com dicas do que a pessoa pode fazer e como ela pode evitar cair numa fraude, evitar um golpe com seu CPF. A dica é ficar de olho nas nossas redes sociais, tanto no Instagram quanto no YouTube e acompanhar aí os materiais que a gente vai lançar. Na primeira matéria, a gente está falando muito sobre golpes de emprego, golpes de Pix, de boleto. Em breve, a gente vai ter conteúdo sobre golpes de FGTS e a gente vai lançar outras matérias no decorrer dos próximos dias, são textos, vídeos, em várias plataformas.
Os golpes de vagas de emprego surgiram com mais evidência este ano. Para enfrentar essa ameaça que costuma chegar por e-mail ou mensagem de texto, que dicas ou orientações a senhora dá?
As pessoas estão recebendo no WhatsApp várias mensagens assim, neste momento de sensibilidade, em que estamos todos precisando de dinheiro, com alta dos preços, da inflação. As mensagens são tipo: trabalhe em casa, com ganhos de até R$ 35 mil, clique aqui e preencha um formulário ou clique aqui e faça um curso de aperfeiçoamento por R$ 200 e você já vai estar empregado. Veja se o WhatsApp que você está conversando é de uma conta verificada, lá em cima sempre vai ter aquele símbolo de conta verificada, que diz que aquela é uma conta oficial. Não pague um boleto. É preciso pensar um pouquinho porque essas pessoas oferecem uma suposta vaga de emprego, mas ainda cobram por isso. É justamente aí que ele vai captar os seus dados, vai utilizar para futuros golpes de cartão de crédito, por exemplo, porque a quantidade de formulário que você preenche hoje com o seu nome, CPF, e-mail, é enorme. É preciso, principalmente, desconfiar.
Para quem já teve seus dados vazados, há algo a fazer para tentar mitigar as consequências?
Monitorar os seus dados. A gente tem o serviço Serasa Premium que ajudar a fazer esse monitoramento. Qual a importância de monitorar o seu CPF? Toda vez que você for consultado por uma empresa o Serasa Premium irá te notificar com SMS ou um e-mail falando que seu CPF foi consultado pela empresa X. Com esse alerta, eu fico atento a todas as movimentações. Por exemplo, se eu recebo um alerta do Itaú sem que eu tenha buscado um crédito, isso pode ser um golpe. Se aparece um alerta de financiamento de material de construção e eu não estou comprando nada, então isso pode ser uma fraude. É extremamente importante porque se você teve um documento roubado e a pessoa vai usar o seu documento para fazer uma compra, um financiamento, e você recebe esse alerta, você consegue atuar entrando em contato com a empresa e falando. Precisamos estar de olho e monitorando os nossos próprios dados.
FONTE: Portal de Notícias Tribuna do Norte / Por Redação: Economia / Foto capa: Reprodução Internet: Portal de Notícias UOL
