As fraudes e os golpes seguem uma mesma dinâmica: a promessa de lucros extraordinários em pouquíssimo tempo. Em São Paulo, polícia investiga empresa que deve mais de R$ 200 milhões aos clientes que investiram em criptomoedas.
A polícia e órgãos de defesa de consumidor têm registrado uma explosão nas reclamações sobre pirâmides financeiras nos últimos meses.
A promessa de uma rentabilidade de 2 até 5% ao mês, bem maior que a média do mercado, atraiu Silvio Charles Martins Alves para o mundo das criptomoedas. Em 2017, o músico do Rio de Janeiro aplicou R$ 20 mil em uma carteira oferecida por uma corretora de São Paulo. O negócio parecia tão vantajoso que ele indicou a amigos e decidiu investir mais.
“Depois de um ano e meio mais ou menos, quando a minha mãe veio a falecer em 2019 e eu recebi um valor da minha mãe, eu botei mais o valor que minha mãe deixou para mim. No caso, totalizando aí R$ 340 mil”, conta.
Em dezembro do ano passado, Silvio e os outros 3,8 mil clientes da MSK Operações e Investimentos foram surpreendidos por um comunicado. Na mensagem, a empresa anunciava o encerramento de parte de suas operações e se comprometia a devolver o dinheiro dos investidores em dez parcelas mensais, a partir de janeiro deste ano. Os clientes dizem que até agora, sete meses depois, não receberam nenhum centavo.
“Zero dinheiro. Não tenho absolutamente nada, a não ser o dinheiro do que estou trabalhando atualmente”, afirma Silvio.
Números do Procon de São Paulo mostram o tamanho do prejuízo causado pela MSK. De 2021 para cá, as reclamações contra a empresa saltaram de 39 para 1.159, e os valores cobrados somam mais de R$ 200 milhões.
A Polícia Civil de São Paulo também abriu inquérito para apurar a conduta da empresa. A suspeita é que a MSK tenha montado um esquema de pirâmide financeira, que depende da chegada de mais e mais participantes, até se tornar insustentável. O objetivo dos investigadores agora é descobrir onde foi parar todo esse dinheiro e devolvê-lo aos clientes.
A empresa se defende. Em um pedido de recuperação judicial feito à Justiça em abril, a MSK alegou que enfrenta uma grave crise financeira desde o segundo semestre de 2021 e que, para piorar, um ex-diretor se apropriou de maneira ilegal de parte das criptomoedas.
Uma criptomoeda é um tipo de dinheiro – como as outras moedas com as quais convivemos – com a diferença de ser totalmente digital. O mercado mundial de criptomoedas surgiu em 2009 e atravessa sua maior crise. O aumento de juros e a alta da inflação em diversos países, principalmente depois do início da guerra na Ucrânia, secaram os investimentos.
O bitcoin, ativo mais negociado dentro do universo das criptomoedas, atingiu seu ápice em novembro do ano passado: quase US$ 70 mil. Hoje a moeda não vale nem um terço disso.
O mercado de criptomoedas ainda não é regulamentado no Brasil. Em abril, o Senado aprovou um projeto de lei que estabelece regras para as operações e penas para os autores de fraudes. O texto agora está com os deputados.
O professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas William Eid tem uma dica simples para quem quer ganhar dinheiro sem correr o risco de perder tudo.
“O investidor tem que sempre desconfiar, principalmente de ofertas muito generosas. Nós temos aquele ditado que é muito antigo: ‘Quando a esmola é demais o santo desconfia’. Desconfie sempre. Não adianta ir atrás de uma rentabilidade de 15% ao mês, se as rentabilidades médias são de 1% ou 1,5% ou 0,8%, como é a renda fixa no Brasil. As pessoas precisam entender que, para juntar dinheiro, para ter bons investimentos, é preciso disciplina, conhecimento”, orienta.
O Jornal Nacional não conseguiu contato com a empresa MSK.
Fonte: Portal de Notícias G1 – Por Redação, Jornal Nacional — Rio de Janeiro, RJ / Foto Capa: Reprodução / Internet – CriptoFácil